quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ode à tristeza

A felicidade é um conceito curioso: quando se é demasiado tempo feliz, normalmente significa que apenas não se conseguiu perceber que o momento em que a felicidade bateu já passou e deu lugar a um comodismo letárgico. Acredito que haja quem sinta um permanente estado de paz. O que não acredito é em pessoas que estão em estado permanente de alegria. Essas pessoas deveriam refletir e perguntar-se porque escapam à tristeza e a sofrimento, escondendo-se debaixo de um sorriso que não passa de um reflexo muscular automático. Não renego a tristeza nem a necessidade de sofrer. Não por ser mártir, mas por reconhecer que nesses momentos se esconde um verdadeiro tesouro de ensinamentos. Aprendemos sobre nós, sobre os outros. Aprendemos a conhecer os nossos maiores defeitos, aqueles que nem a nós mesmos queremos admitir que temos. Aprendemos, também, a conhecer o poder da força interior e o valor das virtudes que residem lado a lado com os defeitos. Ignorar o sofrimento é o equivalente a ignorar um caminho que leva ao crescimento pessoal. Não agradeço a cruz que carrego, já que sou egoísta o suficiente para não querer educação à bruta. No entanto, todos os dias lhe reconheço potencial e agradeço os seus resultados. Sem os momentos maus, se calhar nem conseguiria identificar os momentos bons com clareza. E, de certeza, que sem os momentos maus, não saberia quem sou.

Novo Mundo?

O mundo está a mudar. Sinto isso quando olho à minha volta. As pessoas estão mais inquietas, menos acomodadas, mais combativas. Não se resignam a um destino aleatório e lutam para que o destino não passe de uma palavra no dicionário. Tenho de reconhecer que a degradação das condições de vida a que assistimos teve o seu lado benéfico. A letargia e adormecimento estão a dar lugar a espírito de união e força combativa. Talvez, depois desta realidade, o futuro nunca mais venha a ser o mesmo. Talvez nunca mais se oiça nas ruas “eu não posso fazer nada” ou “uma pessoa sozinha não tem força”. Ou talvez seja apenas fruto da altura e, como a História tem vindo a comprovar, se volte a esquecer que a união pode mudar o Mundo. Espero que não...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Contos de fadas modernos

Todos crescemos com os contos de fadas. De uma maneira ou de outra, as histórias do “era uma vez, num reino distante...” foram passadas de pais para filhos. Todos vivemos um pouco do Gato das Botas, do João Pé de Feijão, do Patinho Feio… E, principalmente as meninas, viveram um pouco de Rapunzel, Cinderela, Branca de Neve… Habituaram-se à ideia do resgate de um príncipe encantado perfeito, montado no cavalo branco, que as beijaria com o amor verdadeiro e as levaria ao castelo onde viveriam felizes para sempre. Claro que a realidade não podia estar mais longe dos contos de fadas! O cavalo branco será um Opel Corsa de 2001, com a pintura já meia desgastada e cujos fusíveis queimam à velocidade da luz. O castelo é o T1 ou T2 que demora uma vida a ser pago, sempre carregado de tarefas domésticas chatas para serem feitas. O príncipe encantado tem tantos defeitos como a bela princesa. E afinal de contas, o que é mesmo o amor verdadeiro?! Isto pode dar uma sensação de frustração permanente, caso não se aprenda a deixar os contos de fadas na infância. Relações perfeitas são apenas uma quimera. Graças a Deus! Perfeição é coisa que não almejo nem desejo. Além disso, nenhuma das muitas Cinderelas são verdadeiramente princesinhas… Na verdade, na maioria dos casos, estão mais para Super-Mulheres! Trabalham, cuidam da casa, cuidam dos filhos, cuidam de si e cuidam dos que a rodeiam. Como é possível que muitas dessas mulheres não vejam a verdade? Que não são seres frágeis que quebram ao primeiro sinal de abanão? Orgulho-me da minha condição de Mulher diariamente. Orgulho-me de ser chata, de ser teimosa, de responder torto, de ser pouco graciosa. Orgulho-me do meu príncipe encantado, que tem tantos defeitos como eu. Orgulho-me da minha relação que roça, volta e meia, os limites da loucura. Orgulho-me do meu castelo em forma de T1 e do meu “cavalo branco” a cair de velho. Orgulho-me mais do que muito do resultado de tanta imperfeição, que veio na forma de uma criança traquina e de personalidade vincada. Acima de tudo, orgulho-me de não precisar de ser resgatada da rainha má, porque sei que eu própria lhe daria cabo do canastro.
O “felizes para sempre” não podia estar mais longe da realidade. Ainda bem! Quem valoriza a felicidade, se nunca conheceu mais nada?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Dar voz à revolta, JÁ!!!

Todos os dias, em todos os locais que frequento, oiço queixas em relação aos nossos políticos. Oiço queixas sobre a sua natureza corrupta, sobre as medidas de austeridade, sobre a vida regalada que têm à nossa custa, sobre aquilo que fariam caso estivessem eles no poder. Em 90% dos casos, sou obrigada a rir-me. Não porque ache graça aos assuntos dos quais se queixam, até porque a maioria também afeta a mim e aos que amo. Rio-me porque, nesses 90% dos casos, são pessoas que alternam os seus votos entre PSD e PS, sem sequer se questionarem porquê. Rio-me porque essas pessoas vão visitar a família no dia de greve, contentes por mais um dia em que não trabalham. Rio-me porque algumas não sabem o poder do seu voto e muito menos o poder desses votos todos juntos. Não podem esperar mudanças nos políticos se não lutarem por essas mudanças! Ou acham que o 25 de Abril foi uma realidade conquistada por pessoas que partilham piadas no café da esquina, saindo daí para o conforto do seu sofá? Gostava de ter um país melhor para o meu filho. Gostava de poder ter a confiança que o fiz parte de uma sociedade que não tem medo (ou preguiça) de lutar pelo seu futuro. Infelizmente, não é essa a realidade que tenho constatado nos últimos anos. Vejo diariamente pessoas tristes, conformadas com o seu destino. Pessoas que podem e devem sair à rua para manifestarem com vigor o seu descontentamento! Pessoas que podem e devem largar o conforto do seu canto para lutarem! Não entendo porque oiço alguns reformados dizerem que já passou a altura deles… Não entendo porque não estão mais jovens presentes nas manifestações, como se o facto de não terem (ainda) poder de voto fosse fator condicionante. E, acima de tudo, não entendo como é que pais e mães levam a sua vida calmamente, resignadamente, sem lutarem pelo país dos seus filhos. Eu, sozinha, não poderei fazer muito. Eu, juntamente com os demais, poderei fazer tudo! Ainda não é tarde de mais, mas estamos perto disso. Portanto, e enquanto ainda há tempo, vamos salvar-nos de todas as injustiças que temos sofrido em silêncio. Se não o fizermos agora, então também não seremos merecedores de outro destino para além deste.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Divergências de opinião

Por diversas razões, tenho pensado muito na questão da divergência de opiniões. Duas pessoas (ou mais), que esgrimem argumentos com o objetivo de darem a conhecer as suas posições sobre os mais diversos temas – e dando também a conhecer uma parte do que são. Uns argumentos fazem sempre mais sentido do que outros mas, com a exceção de algumas enormidades que nem sequer têm direito a tempo de antena, penso que todos os argumentos são válidos. É claro que depois, fica à personalidade de cada um a plena aceitação do que nos é dito. Isso pode significar que, mesmo reconhecendo a validade dos argumentos, não seremos capazes de compreender (com a aceitação que a compreensão traz) o que nos é dito. Isso pode deixar um amargo na boca… Pode dar aquela vontade de partir para a ignorância. É frustrante gastar o latim e sentir que foi desperdício de tempo. É mais frustrante ainda sentir que a pessoa com quem acabamos de divergir na opinião dada sente o mesmo. É quase impossível, durante algum tempo (que varia sempre consoante o impacto do assunto ou a teimosia da pessoa), evitar aquele sentimento que bate e traz vontade de gritar para garantir que somos ouvimos, de elevar a voz até sentir compreensão. Porque as divergências de opinião nascem da necessidade básica que as pessoas sentem em serem ouvidas, compreendidas, aceites… E nem sempre isso é possível. Mas, quando as pessoas acalmam e refletem sobre o que foi dito, podem conseguir tirar uma lição importante. A discussão e os seus argumentos, sejam eles bem ou mal apresentados, são uma manifestação de personalidade. Uns mais racionais, outros mais emotivos, mas todos demonstram um pouco do que somos enquanto pessoas. E escolher uma discussão em vez de calar é uma forma de atribuir importância à pessoa com quem acabamos de embater! Por isso, as divergências de opinião, mesmo quando todos concordem em discordar, não são más. São só mais uma possibilidade de aprender coisas novas sobre quem nos rodeia, mesmo que, durante uns minutos ou horas, a vontade seja de pedir paciência a Deus, sabendo que se se pedir força, partimos a cara a alguém.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sobre mudança e almas...


Um dia acordas e tudo parece no seu sítio. Os objetos estão pousados onde os deixaste, as rotinas são as de ontem e anteontem, o Mundo está no seu eixo. Algures pelo caminho, surge a catástrofe natural: um terramoto de informação, seguido da respetiva avalanche de sentimentos. Uns são naturais e de se esperar: as lágrimas, a raiva, talvez algum vazio… Isso, qualquer um adivinha que será o que lhe espera quando alguém lhe pontapeia o Mundo e tudo vira do avesso. O que não seria de esperar é aquele sentimento de estranheza, como se, de repente, tudo fosse desconhecido. Questionas porque pousas as chaves em cima da mesa da cozinha, em vez de as pousares na entrada de casa. Intrigas-te sobre a razão de só escovares o cabelo depois de lavares os dentes, se é exatamente igual quando invertes os movimentos. Não te lembras o que te levou a escolheres aquele sítio como o melhor para estacionar o carro. Não sabes porque é que essas coisas só acontecem a ti (mesmo reconhecendo automaticamente que também acontecem aos outros). Só sabes com certeza e imediatamente que aquele minuto em que a vida mudou (e que talvez seja mais ou menos minutos, sabe-se lá?!), alguma coisa importante quebrou. Mais ou menos como quando se parte uma perna: 2 minutos depois, já percebemos que a dor é lancinante, vai demorar meses a ser curada e talvez até precises de fisioterapia para recuperares da lesão. E partir a alma é assim mesmo, com duas grandes desvantagens: não há analgésico que nos safe nem fisioterapeuta que nos valha. Temos de suportar tudo a sangue frio e manter o resto Mundo no seu eixo. O Mundo não espera por recuperações! O Mundo não tem tempo para isso. Simplesmente gira uma e outra vez, incessantemente, desde sempre. O que fazer nessa altura? Procurar uma band-aid e rezar para que mantenha tudo no sítio? Ou simplesmente continuar a levantar de manhã, rezando para a alma partida sare rapidamente e o Mundo volte a girar no seu eixo novamente? Há quem diga que as mudanças são boas. Talvez tenham razão. A mim, parecem apenas dolorosas.