A felicidade é um conceito curioso: quando se é demasiado
tempo feliz, normalmente significa que apenas não se conseguiu perceber que o
momento em que a felicidade bateu já passou e deu lugar a um comodismo
letárgico. Acredito que haja quem sinta um permanente estado de paz. O que não
acredito é em pessoas que estão em estado permanente de alegria. Essas pessoas
deveriam refletir e perguntar-se porque escapam à tristeza e a sofrimento,
escondendo-se debaixo de um sorriso que não passa de um reflexo muscular automático. Não renego a tristeza nem a necessidade de sofrer. Não por ser
mártir, mas por reconhecer que nesses momentos se esconde um verdadeiro tesouro
de ensinamentos. Aprendemos sobre nós, sobre os outros. Aprendemos a conhecer
os nossos maiores defeitos, aqueles que nem a nós mesmos queremos admitir que
temos. Aprendemos, também, a conhecer o poder da força interior e o valor das virtudes
que residem lado a lado com os defeitos. Ignorar o sofrimento é o equivalente a
ignorar um caminho que leva ao crescimento pessoal. Não agradeço a cruz que
carrego, já que sou egoísta o suficiente para não querer educação à bruta. No
entanto, todos os dias lhe reconheço potencial e agradeço os seus resultados.
Sem os momentos maus, se calhar nem conseguiria identificar os momentos bons
com clareza. E, de certeza, que sem os momentos maus, não saberia quem sou.
Apenas mais um blogue entre muitos outros. :) Não vai ter tema específico, vai ser apenas um diário sobre a minha vida.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Novo Mundo?
O mundo está a mudar. Sinto isso quando olho à minha volta.
As pessoas estão mais inquietas, menos acomodadas, mais combativas. Não se
resignam a um destino aleatório e lutam para que o destino não passe de uma
palavra no dicionário. Tenho de reconhecer que a degradação das condições de
vida a que assistimos teve o seu lado benéfico. A letargia e adormecimento
estão a dar lugar a espírito de união e força combativa. Talvez, depois desta
realidade, o futuro nunca mais venha a ser o mesmo. Talvez nunca mais se oiça
nas ruas “eu não posso fazer nada” ou “uma pessoa sozinha não tem força”. Ou talvez
seja apenas fruto da altura e, como a História tem vindo a comprovar, se volte
a esquecer que a união pode mudar o Mundo. Espero que não...
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Contos de fadas modernos
Todos crescemos com os contos de fadas. De uma maneira ou de
outra, as histórias do “era uma vez, num reino distante...” foram passadas de
pais para filhos. Todos vivemos um pouco do Gato das Botas, do João Pé de
Feijão, do Patinho Feio… E, principalmente as meninas, viveram um pouco de
Rapunzel, Cinderela, Branca de Neve… Habituaram-se à ideia do resgate de um príncipe
encantado perfeito, montado no cavalo branco, que as beijaria com o amor
verdadeiro e as levaria ao castelo onde viveriam felizes para sempre. Claro que
a realidade não podia estar mais longe dos contos de fadas! O cavalo branco
será um Opel Corsa de 2001, com a pintura já meia desgastada e cujos fusíveis
queimam à velocidade da luz. O castelo é o T1 ou T2 que demora uma vida a ser
pago, sempre carregado de tarefas domésticas chatas para serem feitas. O
príncipe encantado tem tantos defeitos como a bela princesa. E afinal de
contas, o que é mesmo o amor verdadeiro?! Isto pode dar uma sensação de frustração
permanente, caso não se aprenda a deixar os contos de fadas na infância. Relações
perfeitas são apenas uma quimera. Graças a Deus! Perfeição é coisa que não
almejo nem desejo. Além disso, nenhuma das muitas Cinderelas são
verdadeiramente princesinhas… Na verdade, na maioria dos casos, estão mais para
Super-Mulheres! Trabalham, cuidam da casa, cuidam dos filhos, cuidam de si e
cuidam dos que a rodeiam. Como é possível que muitas dessas mulheres não vejam
a verdade? Que não são seres frágeis que quebram ao primeiro sinal de abanão? Orgulho-me
da minha condição de Mulher diariamente. Orgulho-me de ser chata, de ser
teimosa, de responder torto, de ser pouco graciosa. Orgulho-me do meu príncipe
encantado, que tem tantos defeitos como eu. Orgulho-me da minha relação que
roça, volta e meia, os limites da loucura. Orgulho-me do meu castelo em forma
de T1 e do meu “cavalo branco” a cair de velho. Orgulho-me mais do que muito do
resultado de tanta imperfeição, que veio na forma de uma criança traquina e de
personalidade vincada. Acima de tudo, orgulho-me de não precisar de ser
resgatada da rainha má, porque sei que eu própria lhe daria cabo do canastro.
O “felizes para sempre” não podia estar mais longe da realidade. Ainda bem! Quem valoriza a felicidade, se nunca conheceu mais nada?
O “felizes para sempre” não podia estar mais longe da realidade. Ainda bem! Quem valoriza a felicidade, se nunca conheceu mais nada?
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Dar voz à revolta, JÁ!!!
Todos os dias, em todos os locais que frequento, oiço
queixas em relação aos nossos políticos. Oiço queixas sobre a sua natureza
corrupta, sobre as medidas de austeridade, sobre a vida regalada que têm à
nossa custa, sobre aquilo que fariam caso estivessem eles no poder. Em 90% dos
casos, sou obrigada a rir-me. Não porque ache graça aos assuntos dos quais se
queixam, até porque a maioria também afeta a mim e aos que amo. Rio-me porque,
nesses 90% dos casos, são pessoas que alternam os seus votos entre PSD e PS,
sem sequer se questionarem porquê. Rio-me porque essas pessoas vão visitar a
família no dia de greve, contentes por mais um dia em que não trabalham. Rio-me
porque algumas não sabem o poder do seu voto e muito menos o poder desses votos
todos juntos. Não podem esperar mudanças nos políticos se não lutarem por essas
mudanças! Ou acham que o 25 de Abril foi uma realidade conquistada por pessoas
que partilham piadas no café da esquina, saindo daí para o conforto do seu
sofá? Gostava de ter um país melhor para o meu filho. Gostava de poder ter a
confiança que o fiz parte de uma sociedade que não tem medo (ou preguiça) de
lutar pelo seu futuro. Infelizmente, não é essa a realidade que tenho
constatado nos últimos anos. Vejo diariamente pessoas tristes, conformadas com
o seu destino. Pessoas que podem e devem sair à rua para manifestarem com vigor
o seu descontentamento! Pessoas que podem e devem largar o conforto do seu
canto para lutarem! Não entendo porque oiço alguns reformados dizerem que já
passou a altura deles… Não entendo porque não estão mais jovens presentes nas
manifestações, como se o facto de não terem (ainda) poder de voto fosse fator
condicionante. E, acima de tudo, não entendo como é que pais e mães levam a sua
vida calmamente, resignadamente, sem lutarem pelo país dos seus filhos. Eu,
sozinha, não poderei fazer muito. Eu, juntamente com os demais, poderei fazer
tudo! Ainda não é tarde de mais, mas estamos perto disso. Portanto, e enquanto
ainda há tempo, vamos salvar-nos de todas as injustiças que temos sofrido em
silêncio. Se não o fizermos agora, então também não seremos merecedores de
outro destino para além deste.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Divergências de opinião
Por diversas razões, tenho pensado muito na questão da
divergência de opiniões. Duas pessoas (ou mais), que esgrimem argumentos com o
objetivo de darem a conhecer as suas posições sobre os mais diversos temas – e dando
também a conhecer uma parte do que são. Uns argumentos fazem sempre mais
sentido do que outros mas, com a exceção de algumas enormidades que nem sequer
têm direito a tempo de antena, penso que todos os argumentos são válidos. É
claro que depois, fica à personalidade de cada um a plena aceitação do que nos
é dito. Isso pode significar que, mesmo reconhecendo a validade dos argumentos,
não seremos capazes de compreender (com a aceitação que a compreensão traz) o
que nos é dito. Isso pode deixar um amargo na boca… Pode dar aquela vontade de
partir para a ignorância. É frustrante gastar o latim e sentir que foi
desperdício de tempo. É mais frustrante ainda sentir que a pessoa com quem
acabamos de divergir na opinião dada sente o mesmo. É quase impossível, durante
algum tempo (que varia sempre consoante o impacto do assunto ou a teimosia da
pessoa), evitar aquele sentimento que bate e traz vontade de gritar para
garantir que somos ouvimos, de elevar a voz até sentir compreensão. Porque as
divergências de opinião nascem da necessidade básica que as pessoas sentem em
serem ouvidas, compreendidas, aceites… E nem sempre isso é possível. Mas,
quando as pessoas acalmam e refletem sobre o que foi dito, podem conseguir
tirar uma lição importante. A discussão e os seus argumentos, sejam eles bem ou
mal apresentados, são uma manifestação de personalidade. Uns mais racionais, outros
mais emotivos, mas todos demonstram um pouco do que somos enquanto pessoas. E
escolher uma discussão em vez de calar é uma forma de atribuir importância à
pessoa com quem acabamos de embater! Por isso, as divergências de opinião,
mesmo quando todos concordem em discordar, não são más. São só mais uma
possibilidade de aprender coisas novas sobre quem nos rodeia, mesmo que,
durante uns minutos ou horas, a vontade seja de pedir paciência a Deus, sabendo
que se se pedir força, partimos a cara a alguém.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Sobre mudança e almas...
Um dia acordas e tudo parece no seu sítio. Os objetos estão
pousados onde os deixaste, as rotinas são as de ontem e anteontem, o Mundo está
no seu eixo. Algures pelo caminho, surge a catástrofe natural: um terramoto de
informação, seguido da respetiva avalanche de sentimentos. Uns são naturais e
de se esperar: as lágrimas, a raiva, talvez algum vazio… Isso, qualquer um
adivinha que será o que lhe espera quando alguém lhe pontapeia o Mundo e tudo
vira do avesso. O que não seria de esperar é aquele sentimento de estranheza,
como se, de repente, tudo fosse desconhecido. Questionas porque pousas as
chaves em cima da mesa da cozinha, em vez de as pousares na entrada de casa.
Intrigas-te sobre a razão de só escovares o cabelo depois de lavares os dentes,
se é exatamente igual quando invertes os movimentos. Não te lembras o que te
levou a escolheres aquele sítio como o melhor para estacionar o carro. Não
sabes porque é que essas coisas só acontecem a ti (mesmo reconhecendo automaticamente
que também acontecem aos outros). Só sabes com certeza e imediatamente que
aquele minuto em que a vida mudou (e que talvez seja mais ou menos minutos,
sabe-se lá?!), alguma coisa importante quebrou. Mais ou menos como quando se
parte uma perna: 2 minutos depois, já percebemos que a dor é lancinante, vai
demorar meses a ser curada e talvez até precises de fisioterapia para
recuperares da lesão. E partir a alma é assim mesmo, com duas grandes
desvantagens: não há analgésico que nos safe nem fisioterapeuta que nos valha.
Temos de suportar tudo a sangue frio e manter o resto Mundo no seu eixo. O
Mundo não espera por recuperações! O Mundo não tem tempo para isso.
Simplesmente gira uma e outra vez, incessantemente, desde sempre. O que fazer
nessa altura? Procurar uma band-aid e rezar para que mantenha tudo no sítio? Ou
simplesmente continuar a levantar de manhã, rezando para a alma partida sare
rapidamente e o Mundo volte a girar no seu eixo novamente? Há quem diga que as mudanças são boas. Talvez tenham razão. A mim, parecem apenas dolorosas.
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